domingo, 23 de agosto de 2009

Popciência: Bons amigos = Bons discos

Discordo que o melhor do homem seja o cão, por que, além de não dizer nada de forma direta ao seu suposto melhor amigo, essa palavra também é associada ao demônio ou cramunhão, como queira, fica a gosto da audiência.

Acredito cegamente que o homem não tem um melhor amigo, mas vários ”melhores amigos”: os discos. Por que eles são fáceis de carregar, não precisam ser alimentados, não precisam tomar banho (exceto o vinil, mas o ato de cuidar deste se assemelha à atenção que se tem com os filhos), e o melhor de tudo, não cobram nada de você. Pode parecer meio egoísta esse ponto de vista de não querer se preocupar com ninguém, mas a verdade é que nas horas difíceis, quaisquer que sejam as circunstâncias, eles sempre tem uma palavra amiga envolvida numa bela melodia, o que torna ainda mais significativa sua mensagem. Que o digam aqueles que apreciam “Tears in Heaven”, de Eric Clapton, e “All my Love”, do Led Zeppelin, onde cada um dos intérpretes expõe seus fantasmas sobre uma situação nada agradável: a perda de um filho. Ironicamente (ou não) estas canções foram sucessos arrebatadores, em parte pela musicalidade (o prazer estético), em parte pela sinceridade com que cada um dos já citados artistas a apresentam ao público.Um disco, muitas vezes com uma canção específica, pode salvar vidas. Acredito que os especialistas nisso são Sir Paul McCartney, Neil Young e Bob Dylan (não citei Leonard Cohen por que não conheço sua obra tão a fundo, mas vale uma conferida em “Dance me to the end of Love”, “Hey, that’s no way to say goodbye” e “Hallelujah”). Cada um à sua maneira tenta mostrar que há sempre uma esperança se você olhar pra frente, esperar que um novo dia traga alguma mudança, ou que você mesmo faça sua mudança. “Hey Jude”, “Silver and Gold” e “Like a rolling stone” são bons exemplos disso. Let it be...

É claro que um ombro amigo é importante, mas fica ainda mais acolhedor com a trilha sonora certa. Não é a toa que bons amigos têm gostos musicais semelhantes; isso os ajuda mais a entender um ao outro. A melodia que se espalha pelo ar através dos alto-falantes invade o ser de cada iluminado que tem sensibilidade para apreciar boa música, e a letra pode completar ou dar mais sentido à tentativa de consolo do outro, isso independente de gênero. É o artista entrando em contato com o apreciador, a arte se tornando perene através da contemplação. Não é apenas a música em si, mas a música em mim. É essa ligação que dá à arte a razão de existir.

Até discos de qualidade duvidosa (aqui eu incluo breganejo, popgode e oxente music) tem seu mérito, por que todos têm sentimentos, mesmo aqueles que ainda não tomaram contato com o belo (não confundir com o cantor-amigo-de-traficante, por favor). Todos precisamos de músicas para pontuar situações marcantes de nossas vidas. Não é a toa que os filmes tem uma trilha sonora cuidadosamente escolhida; a vida é como um filme, só que real. Coitados daqueles que não tem uma trilha sonora pessoal. E que não tem amigos para compartilhar isso. Graças a Deus, eu tenho os dois.

por: Marco Antonio

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